Área de contêineres refrigerados para exportação de carga congelada no Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) (TCP/Divulgação)
País é o 3º maior produtor de frutas no mundo, mas apenas o 24º exportador; gargalo está relacionado à necessidade de certificações e logística
Desembarca na Índia, nesta segunda-feira, 30, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho. Até dia 5 de novembro, uma comissão da entidade se dedica a avançar na abertura de mercados, esclarecer questões fitossanitárias e participar presencialmente da World Food Nova Delhi.
Em São Paulo, também nesta segunda-feira, agricultores, varejistas e profissionais envolvidos com a fruticultura se reúnem exatamente para discutir esta relação entre frutas e exportações. De uma ponta até a outra, há um componente essencial: as certificações. Para o setor de frutas, verduras e legumes, a mais relevante delas é a Global G.A.P.
Presente em 130 países, este é o selo unânime para que produtores rurais comprovem corresponder às boas práticas tão exigidas pelo mercado internacional. Aqui no Brasil, o contingente é de apenas 602 certificações. Isso se traduz nos números de exportação.
Embora o Brasil tenha atingido o recorde em faturamento, chegando a US$ 1,6 bilhão em 2022, o volume é irrisório próximo ao potencial de crescimento, segundo Eduardo Costa, diretor executivo da Abrafrutas. O cenário se agrava quando o país perde o protagonismo para vizinhos, a exemplo de Peru e Chile. Eles chegam a US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões em faturamento, respectivamente.
De acordo com Costa, a Europa tem “subido o sarrafo” em relação aos resíduos químicos nas frutas, por isso a urgência em educar o produtor e correr atrás da obtenção da Global G.A.P. Recentemente, ele revela, uma carga de uva que chegou na Europa, após fazer a análise aqui, foi rechaçada lá, porque as informações estavam “desencontradas”.
“Temos de nos policiar mais, porque eles estão mais rigorosos. Então, ou a gente se enquadra ou podemos arriscar o mercado. Certificações e acompanhamentos agronômicos podem mudar essa realidade”, diz.
A Abrafrutas corresponde a 85% de todas as frutas exportadas, sendo a União Europeia responsável por 70%. “Isso é uma coisa ‘temerável’, a gente tem quase todos os ovos em uma cesta só, por isso a Abrafrutas tem focado muito na questão da diversificação de mercados”, afirma Costa. Para ter uma ideia, o país é terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas o 24º em exportação. Mas, afinal, qual a dificuldade de expandir a venda internacional?
Questões culturais e de logística
Conquistar a certificação é, sobretudo, uma questão cultural, na visão de Lígia Carvalho, diretora-presidente da Abacates do Brasil e presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Para ela, o convencimento com os agricultores sobre a importância da certificação ainda está atrelado a conseguir melhores preços, pois existe agregação de valor.
Ainda assim, ela diz que a gestão organizada da produção agrícola deve ser eficiente independente da aceitação no mercado externo. “Não dá para pensar por que fazer a análise de água, é preciso fazer e ponto. Hoje, os produtores da cadeia do abacate tropical e avocado sabem que é importante a certificação para a própria sobrevivência do negócio”, afirma.
Outro ponto de gargalo, assim como em outros segmentos do agronegócio, é a logística. Dados da Abrafrutas apontam que cerca de 90% das exportações seguem pelo modal marítimo e o restante é via aéreo e terrestre. “Temos problemas em portos e aeroportos. Não tem fiscal federal, não tem quem faça a vistoria dos contêineres, quem veja a questão fitossanitária. Tem porto que não tem tomada [para manter as frutas refrigeradas]”, relata Eduardo Costa, da Abrafrutas.
Leonardo Machado, analista de negócios internacionais da Apex, conta que a qualificação dos produtores rurais passou a fazer parte dos trabalhos da agência, a fim de inserir pequenos e médios fruticultores na rota das exportações.
“Diferente de outros programas de qualificação, o segmento do agro abrange CNPJs e CPFs, com o objetivo de atender aquele agricultor que não está enquadrado enquanto empresa e sente dificuldade em exportar”, ele afirma. O principal polo da Apex nesta qualificação para fruticultura está em Petrolina, em Pernambuco, mas o projeto também inclui mel, cachaça, cacau, chocolate, algodão e lácteos.
“São 85 empresas e produtores rurais nesse polo, em atendimento, 65 em adesão para a exportação e 21 com plano de exportação concluído. A gente capacita, elabora o plano de exportação e estratégia de entrada em algum mercado. Apresentar certificações como Global G.A.P fazem parte desta jornada”, diz Machado.
Rastreabilidade
Junto à discussão da certificação está a rastreabilidade da produção agrícola, de acordo com Giampaolo Buso, diretor-executivo da PariPassu – empresa de tecnologia voltada ao rastreamento e gestão de qualidade de alimentos.
Para ele, a demanda do consumidor por mais transparência e a exigência dos mercados externos fomentam a necessidade de rastrear o que é produzido desde o campo, logo, quem tem certificação consegue atestar os processos ao longo da cadeia.
Giampaolo Buso estima que a implementação da rastreabilidade represente, em média, cerca de 5% dos custos de produção, sobretudo se comparado com o peso de outros itens, como insumos e mão-de-obra.
“Além de representar um custo baixo em relação a outros que já existem na fazenda, o produtor percebe que certificação e rastreabilidade contribuem, inclusive, para reduzir alguns valores, já que a gestão passa a ser mais organizada. É uma questão de processos, como em qualquer outra indústria”, afirma.
Fonte: exame.
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