Brasília – A crise do comércio internacional agravada pela forte alta dos fretes e pela escassez de contêineres deverá permanecer inalterada, ainda que o cenário atual seja de recuperação e estabilização do comércio exterior, com tendência de recuperação no primeiro semestre de 2022, após a demanda de Natal ter sido atendida. Mas as dificuldades logísticas ainda terão impacto. Esse diagnóstico foi feito pelo Diretor Comercial da Efficienza, Fábio Pizzamiglio, ao analisar as perspectivas do comércio mundial para o próximo ano.
O cenário é de recuperação e estabilização no comércio exterior, com os fretes marítimos atingindo uma certa normalidade, mas sem apresentar recuo nos preços, sublinhou o executivo lembrando que “os fretes aéreos ainda estão com tendência de alta, em função das compras e vendas urgentes para atender à demanda natalina. O cenário aponta para uma baixa geral após o Natal. Entretanto, esse cenário pode ser rapidamente alterado em virtude das variantes da Covid-19, e da Ômitron em especial”.
Em relação à falta de contêineres que fez o preço dos fretes internacionais se multiplicarem em boa parte do ano que se encerra, Fábio Pizzamiglio afirma que “notamos uma lenta melhora no quadro mas ainda estamos com uma demanda muito maior que a oferta de contêineres, gerando escassez de equipamento e todos os impactos que isso causa. Os reflexos principais estão no aumento dos produtos para o consumidor final, dificuldade de entrega de produtos no exterior e atrasos na produção em virtude da falta de insumos importados”.
Apesar de a variante Ômitron provocar alta acentuada em números de casos especialmente na Europa e em nível menos preocupante na China e em outros países, a nova variante da Covid-19 não é vista, por enquanto, com preocupação pelo diretor da Efficienza.
Segundo ele, “ainda não notamos os impactos decorrentes da nova variante. Porém, existem, sim, preocupações de eventuais transtornos. Na China, se seguirmos a tenência e o que aconteceu com as variantes anteriores, haverá fechamentos. Mas a expectativa é que a variante Ômicron não traga um impacto tão grande no comércio exterior brasileiro, visto que grande parcela da população está completamente vacinada ou em processo A única possibilidade de haver transtornos é se a política de tolerância zero do governo chinês continuar ativa, aí sim teremos problemas”.
Nesse contexto, o especialista acredita que o comércio mundial poderá alcançar em 2021 um crescimento de 10,8% e uma alta de 4,7% em 2022, conforme projetado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele considera essa projeção “factível”, em função de toda a demanda acumulada gerada no último ano e meio: “o cenário que vejo em que a projeção possa ficar aquém é em caso de impactos gerados pela variante Ômicron, caso ocorra o fechamento dos portos ou algum fato novo que possa surgir no próximos anos”.
Com o comércio internacional avançando rumo a uma sólida recuperação neste ano e um crescimento menor mas nem por isso relevante em 2022, a expectativa é de que o comércio exterior brasileiro siga trajetória semelhante, depois de fechar o presente ano com uma corrente de comércio (exportação+importação) próxima de US$ 500 bilhões.
Ao comentar o dado, Fábio Pizzamiglio disse que “se avaliarmos os números, veremos que grande parte desse valor foi causado pelo aumento no preço das commodities. No caso do minério de ferro, que representa 25% das exportações brasileiras, tivemos alta de 100%, se comparado com 2020. Ou seja houve sim aumento de volume, porém, os aumentos de preços praticados podem ter mascarado esse crescimento anunciado. Agora isso não significa dizer que não houve méritos perante a crise enfrentada. Apesar de todas as dificuldades, conseguimos manter nossos níveis de compra e venda. Além disso, não houve uma redução na demanda e sim um consumo que ficou represado e começa a escoar com mais facilidade”.
O executivo da Efficienza fez uma avaliação dos reflexos produzidos pela pandemia de Covid-19 no comércio exterior brasileiro. Segundo ele, “apesar do elevado número de vidas humanas perdidas com a pandemia, o empresário brasileiro finalmente percebeu que precisa ter uma organização melhor em relação a suas importações de insumos, tendo um estoque de segurança maior. As empresas passaram também a avaliar melhor seus custos em fretes internacionais, avaliando as taxas e condições, rotas mais otimizadas e parceiros mais confiáveis. Creio que também foram evidenciados nossos problemas logísticos e a importância dos blocos econômicos no Mercosul”.
A avaliação otimista é reforçada também por algumas medidas adotadas pelo governo visando agilizar e modernizar o comércio exterior brasileiro, como a redução em 10% das alíquotas do Imposto de Importação (no contexto do Mercosul) e a abertura de novos mercados com novos produtos: “muitas empresas tiveram que se reinventar e acabaram explorando mercados potenciais com muito futuro. Minha expectativa é sempre que se tire uma lição da crise. Creio que o próximo ano é o momento para se reavaliar as questões logísticas, acordos econômicos, reforma tributária e incentivos aos exportadores”.
As eleições presidenciais de 2022 são um outro fato relevante capaz de impactar o comércio exterior brasileiro, na avaliação de Fábio Pizzamiglio: “ano de eleição é historicamente turbulento. Acredito que até meses antes da eleição teremos uma retomada significativa no comércio exterior, trazendo de volta uma certa estabilidade com crescimento orgânico. Mais próximo das eleições, haverá aumento do dólar e isso irá frear a recuperação. O cenário completo só poderemos traçar após o resultado da eleição”.
Fonte: Comex do Brasil
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